quarta-feira, setembro 12, 2007

Cenas do quotidiano


Porto. Zona oriental da cidade. Um velho café.Um grupo de mulheres conversa aconselhando uma mulher mais idosa a resolver os seus problemas conjugais.
- Eles, aos 60, são como os miúdos só dizem 'Eu quero', 'Eu Quero', por isso temos de tratá-los assim, como crianças.
Falavam de coração aberto, das suas experiências e dos seus medos e no final falaram de Amor. Sim, ouviram bem, de Amor.
- Amor, amor só sinto pelos meus filhos, por ele não.
- Eu, amor, só tenho pelo meu filho, porque o meu amor por ele está enterrado debaixo da terra (sic) já faz 15 anos (ela explicou que não era ele que estava enterrado. Ouvem-se risos.)
- Faço tudo pelo meu filho, tenho-lhe amor, mas do meu marido tenho apenas gosto, só isso.
A mais idosa concordou, entre uma lágrima e outra, e todas ficaram num silêncio confragedor, espartilhadas pela crueza dessa verdade. É então que gelo é quebrado pelo anúncio de piropos antigos e como vida podia ser diferente. Um pedaço de comédia para quebrar o desconforto.

A isto tudo pergunto: onde está o Amor? Ninguém quer ser feliz? É mais cómodo ser infeliz, só porque o esforço está implicado na noção de felicidade?
Não é o objectivo de todos serem felizes? Onde raio está essa vontade?
Ficou despojada no ar do velho café?

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